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Estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado…

Quando as coisas acontecem depressa demais, ninguém pode ter certeza de nada, de absolutamente coisa alguma, nem de si mesmo”.
Milan Kundera, escritor tcheco (1929) em A Lentidão

Agenda eternamente lotada, internet wireless em banda larga, smartphones, blogs, twitter e teleconferências transformaram o homem moderno numa espécie de Coelho Branco de Alice no País das Maravilhas. Sempre apressado, mas eternamente atrasado.

Atrasado e doente. O novo mal do nosso tempo é uma epidemia que atende pelo nome de doença da pressa. O médico americano Larry Dossey explica que a doença da pressa (hurry disease) é uma espécie de superestresse que transforma nosso relógio interno num cronômetro alucinado.

Os resultados não podiam ser piores: apressadamente podemos realizar centenas de tarefas em um dia, mas a que custo? E com que qualidade? Quem é exageradamente acelerado passa a vida tomando decisões precipitadas, trabalha demais e geralmente produz muito pouco.

“O homem quer sempre superar e melhorar os seus limites. Fazer cada vez mais em menos tempo se tornou uma obsessão” alerta Alonso Bezerra de Carvalho – Filósofo e cientista social do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP.

A obsessão cega pela velocidade acabou por gerar uma equivocada inversão de valores. Repare, por exemplo, no quanto nossa cultura associa viver mais depressa com sucesso e inteligência. Um sujeito rápido, ligeirinho e atarefado é logo identificado como inteligente e dedicado. Por outro lado o lento é taxado de burro, de preguiçoso.

Felizmente há quem descobriu o quanto a pressa é perniciosa. Nos quatro cantos do planeta movimentos organizados apresentam diversas propostas para tirar o pé do acelerador e combater a ansiedade generalizada. Nos EUA existe a ong Take Bake Your Time, no Japão o Clube da Preguiça e no Brasil o Clube de Nadismo, apenas para citar alguns.

“Esse é o começo de uma revolução cultural, uma mudança radical na forma como vemos o tempo e como lidamos com a velocidade e a lentidão. Significa colocar qualidade antes de quantidade. É uma espécie de filosofia do devagar, onde se percebe que nem sempre a rapidez é a melhor maneira de fazer as coisas”, explica o jornalista Carl Honoré, ativista do movimentoSlow Planet e autor dos livros Devagar e Sob Pressão.

Desacelerar torna as pessoas mais produtivas no trabalho e mais felizes na vida. Exige disciplina e auto-controle mas rende melhores resultados. Quem sabe já não é hora de você também desacelerar e levar seu carro até um Lava-Lento? Sem pressa, enquanto espera, você pode bater bom um papo com os amigos e tomar cerveja gelada!

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